Corporate Venture Capital: O Desafio do Duplo Retorno
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Corporate Venture Capital: O Desafio do Duplo Retorno

Rodrigo Fernandes
4 min
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O investimento de grandes corporações em startups, por meio de Corporate Venture Capital (CVC), vem se intensificando de forma impressionante.

Essa combinação de empresas consolidadas com empreendedores arrojados abre caminho para inovações que, em teoria, poderiam se traduzir em vantagens competitivas genuínas. Entretanto, a realidade costuma ser menos linear: inúmeras iniciativas não resistem tempo suficiente para revelar todo o seu potencial.

Nessa intersecção, surge um paradoxo: de um lado, há mais fundos corporativos sendo criados do que nunca; de outro, muitos são desativados rapidamente por falta de metas claras ou resultados concretos.

Sem resultados claros a serem mostrados para a liderança, esses programas passam a ser questionados em momentos de corte de custos. Consequentemente, o que antes era considerado uma “janela para o futuro” acaba se convertendo em mera estatística de curto prazo.


A Essência do Duplo Retorno

O Corporate Venture Capital (CVC) deve visar dois objetivos fundamentais: gerar retorno financeiro e agregar valor estratégico à empresa-mãe, de modo a equilibrar os ganhos imediatos com benefícios a longo prazo. Essa abordagem dupla fortalece o programa, garantindo que ele contribua tanto para a saúde financeira quanto para o posicionamento competitivo da organização.

Investimentos que produzem lucros concretos são essenciais para a continuidade do CVC. Sem resultados financeiros palpáveis, o fundo pode ser desvalorizado pela diretoria, especialmente em momentos de mudança de liderança ou de crise interna, comprometendo o apoio necessário para transformar oportunidades em soluções inovadoras.

Fonte: https://neofeed.com.br/negocios/na-ressaca-do-venture-capital-sobrou-tambem-para-os-cvcs/
Fonte: https://neofeed.com.br/negocios/na-ressaca-do-venture-capital-sobrou-tambem-para-os-cvcs/

Ao mesmo tempo, os aportes devem oferecer vantagens estratégicas, como o acesso a novas tecnologias, a redução de custos e a ampliação de mercados. Essa sinergia permite que as iniciativas de venture capital potencializem a inovação e a eficiência operacional da empresa-mãe, criando um ciclo virtuoso que reforça sua competitividade no mercado.

Em resumo, para que o CVC seja sustentável e bem-sucedido, é imprescindível que seus investimentos entreguem valor duplo: ganhos financeiros que sustentem sua viabilidade e aportes estratégicos que impulsionem a competitividade e a inovação da empresa-mãe. Essa integração de metas consolida a importância do fundo como instrumento transformador dentro da corporação.


Mitos e Armadilhas

Um erro comum é encarar o CVC como uma rota simplificada para futuras aquisições. Embora haja exemplos de empresas que integraram startups de seus próprios portfólios, tais casos são exceções. A verdadeira função de um CVC é moldar o ecossistema, ampliando o alcance e fortalecendo a competitividade do core business, e não apenas absorver startups.

Outro ponto delicado é acreditar que apostar em qualquer área “na moda” já resolve o problema de inovação. Sem ligação clara com o core business — gerando economia mensurável, elevando a receita ou fortalecendo a posição de mercado —, esses aportes se tornam frágeis diante da alta gestão. Quando o cinturão aperta, o primeiro corte recai sobre iniciativas que não têm impacto direto e comprovado nos resultados.


Formação e Blindagem do Time

Estruturar um CVC requer a harmonização de duas culturas distintas. Por um lado, há a mentalidade corporativa, que valoriza processos formais, estruturas hierárquicas e tem uma abordagem avessa ao risco.

Por outro, está o universo do venture capital, caracterizado por sua flexibilidade e pela disposição para realizar múltiplas apostas – algumas com alto potencial de sucesso, outras com riscos significativos. Formar uma equipe híbrida, capaz de integrar esses valores contrastantes, representa um dos maiores desafios para a implementação de um CVC eficaz.

Fonte: https://startups.com.br/negocios/cvc/intel-anuncia-que-seu-cvc-vai-se-tornar-um-fundo-independente/
Fonte: https://startups.com.br/negocios/cvc/intel-anuncia-que-seu-cvc-vai-se-tornar-um-fundo-independente/

Além de montar uma equipe com as competências certas, é crucial proteger essa operação das típicas oscilações de orçamento. Na prática, isso se faz por meio de resultados concretos que validem a importância do CVC junto à alta gestão. Se a equipe demonstra como a startup X gerou uma economia real ou como a empresa Y elevou as vendas, o programa ganha respaldo para atravessar momentos de incerteza e continuar operando.


Caminhos Adiante

Ainda que haja exemplos de CVCs de renome passando por cisões ou cortes, a experiência mostra que manter o foco no duplo retorno — conjugando efeitos estratégicos imediatos com ganhos financeiros expressivos — aumenta consideravelmente a longevidade de qualquer iniciativa. Quando essas duas frentes caminham juntas, o CVC deixa de ser visto como mero “centro de custo” e passa a ser uma alavanca de crescimento e vantagem competitiva.

No fim das contas, não basta apenas “espiar” as inovações que surgem no mercado. É preciso alinhar essas descobertas à expansão do core business, sustentando o ecossistema que mantém a corporação lucrativa. Somada à competência de um time equilibrado, essa disciplina faz do CVC um ativo estratégico indispensável, pronto para enfrentar as naturais turbulências que permeiam o mundo corporativo.